Dia Internacional da Democracia: “Os desafios têm de ser enfrentados”

“Não podemos tomar por garantido aquilo que temos, nem o nosso passaporte nem a Democracia”. O tempo que Bárbara Matias, ex-aluna da Universidade Católica Portuguesa, passou enquanto investigadora no Kosovo, “uma democracia recém-nascida”, consciencializou-a para o que na Europa e em Portugal se toma por garantido. No “país que ainda está a lutar pela sua soberania”, algo tão simples como a liberdade de circulação não é um dado adquirido. Recorda como os seus colegas, não podiam ir à Croácia, a 4 horas de distância, apenas por terem “um passaporte kosovar”.

Neste Dia Internacional da Democracia, Bárbara e José Limão, alumni do Instituto de Estudos Políticos da UCP, alertam para os perigos que ameaçam o regime. “Eu acho que é muito importante não esquecer que a Democracia é, por natureza, frágil”, diz José. Falam com paixão do tema e contribuem diariamente para o seu “aprofundamento e preservação”. Bárbara sempre soube “que queria o mundo das relações internacionais” e hoje trabalha na Ação Externa da Comissão Europeia sob a temática do “contraterrorismo e prevenção de extremismo violento”. O seu colega é consultor na FIPRA, uma consultora sediada em Bruxelas.

O papel de Bárbara passa pela promoção dos “Direitos Humanos, o Estado de Direito, e a Democracia” junto dos países parceiros. Também o trabalho de José enquanto consultor está “bastante alicerçado naquilo que é a Democracia”. Considera-se “uma ponte” entre as pessoas e as instituições, que “puxa um bocadinho à terra os deputados e a Comissão”, garantindo que concretizam “a sua missão principal, de servir as pessoas”. “Aquilo que fazemos é dar uma voz” a pessoas e empresas que de outra forma não conseguiriam “influenciar e contribuir o processo legislativo”, explica com orgulho.

A experiência fá-los falar deste dia especial com um sentimento dividido. “Eu sou otimista, vejo o mundo a cores e com arco-íris, ainda que com os pés muito assentes na terra”, diz Bárbara. Porém, não vê motivos para celebrar. “Temos que estar alerta, porque a Democracia está de facto em retrocesso.”

São afirmações fortes, mas Bárbara justifica: “Eu já vi demasiado”. “Depois do Kosovo, voltei para a NATO, onde estive a trabalhar na secção de operações, com o Iraque”, conta. Acompanhou a “fase de quando o General Qasem Soleimani foi assassinado”, e a “erupção social gigante” que se seguiu. Mas foram “as eleições fraudulentas em 9 de agosto de 2020” na Bielorrússia que mais a marcaram. “Apanhei todo esse período de pós-eleições, de repressão estatal”, partilha. Enquanto “desk officer da Bielorrússia” lidou “com a equipa de Sviatlana Tsikhanouskaia, a Presidente não reconhecida” no sentido de “ajudar para que a Democracia prevalecesse.”

Foi “desafiante, mas muito interessante ver uma democracia cair, e ter que dar resposta, do lado do ator que defende a Democracia,” comenta Bárbara. Recorda-a de como “o mundo se está a tornar cada vez mais multipolar”, e de como os “antagonistas da Democracia” crescem, na China, nos EUA e até no seio da UE.

José partilha destas preocupações. “Os desafios que atravessa são muito maiores”, admite. Crê que “têm de ser enfrentados sem qualquer tipo de reserva”. “Não os devemos deixar chegar a um ponto em que estamos mais dependentes do seu insucesso do que do nosso sucesso”. Dá o exemplo da invasão da Ucrânia, como uma oportunidade para “o mundo democrático mostrar a sua força”.

Para a nova geração de politólogos que terá de enfrentar estes desafios e continuar este trabalho de conservação da Democracia, os colegas deixam dois conselhos: “não pensem sempre que estão do lado certo das coisas” nem “se deixem absolutizar em si mesmos”. Bárbara acrescenta: Devem “sair, falar e quando estiverem fartos, decidam sair e falar mais, é o meu conselho.”

Categorias: Instituto de Estudos Políticos

Qui, 15/09/2022