Os segredos para manter o cérebro jovem
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Nos tempos atuais esta característica torna-se particularmente importante. Portugal, a par de Itália, é neste momento o país da União Europeia com maior percentagem de população idosa. O número de pessoas com 100 anos já ultrapassa os três mil, segundo a Pordata. Outra dimensão é a das doenças associadas ao envelhecimento. Estima-se que cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo vivam com demência e este número poderá subir para 152 milhões em 2050, avança um relatório da revista científica Lancet. “Com o envelhecimento da população, o que interessa é que as pessoas envelheçam bem e isso passa sobretudo por envelhecer cognitivamente bem”, diz Maria Vânia Nunes, professora de Neuropsicologia e Neurociências da Universidade Católica Portuguesa. A plasticidade cerebral pode ser cultivada de várias formas, mas todas passam pelo estilo de vida. “A vida que tenho pode mudar a minha anatomia cerebral”, avança a investigadora.
Rosário Prates, 67 anos, é exemplo disso. No último ano e meio mudou radicalmente a sua vida. Primeiro foi a alimentação. Andou bastante tempo inchada e com dores de barriga até perceber que tinha uma doença inflamatória do intestino. Foi preciso uma espécie de reset: deixou de comer praticamente tudo e reintroduziu alimento a alimento. Depois da reforma - era professora de Matemática do Ensino Secundário -, substituiu a rotina da escola pela do ginásio. “Levantava-me às 6h45 para ir dar aulas, agora levanto-me às 7h para fazer exercício físico”, conta. Só às quartas-feiras é que descansa. Também está a terminar o doutoramento, que não conseguiu enquanto dava aulas (está na fase de recolha das entrevistas e conta escrever a tese em 2025), e desde janeiro já fez dois cursos de fotografia, que lhe trouxeram novos amigos e mais uma forma de sair de casa - saem em grupo para fotografar, o local preferido é a ponte Vasco da Gama vista de Alcochete, onde ela vive.
“Não posso parar, a minha cabeça não me deixa”, diz à SÁBADO. Não parar é mesmo o melhor a fazer. Segundo o mesmo relatório da Lancet, citado anteriormente, há 12 fatores de risco implicados em pelo menos 40% dos casos de demência ao nível mundial. Todos podem ser prevenidos ou evitados. Estudar, fazer exercício físico, ter uma alimentação correta, dormir bem, entre outros, são aspetos muito importantes para o funcionamento cerebral - como perceberá ao longo deste texto. “As intervenções preventivas devem realmente ser multidomínios, porque ninguém vai ficar com o cérebro fantástico só a fazer sudokus”, garante a neuropsicóloga Maria Vânia Nunes.
Nota: Pode ler este conteúdo na íntegra na edição impressa da Sábado de 22 de agosto de 2024.
Categories: Faculty of Health Sciences and Nursing (Lisbon)